m Xineladas Club: Idas e Vindas #3

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quarta-feira, 9 de março de 2011

Idas e Vindas #3

Capitulo 3: Caminhos oportunos.


Eram três e quarenta da manhã e eu não conseguia dormir. Deitada em minha cama, sentia a noite fria e a solidão a espreitar o meu quarto escuro e vazio. Não tinha mais como negar, ela ainda me visitava todas as noites. Seu perfume, seus beijos, seu calor ardente e a sua doce voz ainda percorriam cada canto do meu ser. Era como se aquele fantasma do passado ainda tivesse poder sobre mim. E na verdade ainda tinha. Doce ilusão do amor. Ilusão essa que me apedrejou, fez de mim uma pessoa miserável e prisioneira de um amor que nunca existiu.

Os remédios pareciam não fazer mais efeito. O sofrimento ainda reinava no meu peito por todas as noites. Fechei os olhos para tentar ver o vazio e nada além. E como mágica as imagens ainda emergiam diante de mim. O cansaço era imenso e até que em certo momento... Adormeci.

Eu tenho medo do desconhecido. Mas tenho a certeza que ao seu lado sempre enfrentarei o que vier, porque você é mais importante que tudo em minha vida. Você me deu a chance de ser feliz e só com você serei. Nunca se esqueça, nunca mesmo, o quanto eu te amo. Amor eterno esse será. Confie em mim...”

O telefone tocava naquela manhã insistentemente. E do meu sono mal dormido eu acordei.

Camilla: Alô...

Estranho: Estava dormindo até agora?

Camilla: Como?...

Estranho: Não acredito que em uma bela manhã de sábado você ainda estava jogada na cama.

Camilla: Quem ta falando?!

Estranho: E ainda por cima nem me reconhece mais no telefone. O que ta acontecendo com você hein?

Camilla: Olha se quer brincar, vai procurar outra pessoa ok?

Estranho: Calma! Não sabe mesmo quem está falando? É uma vergonha mesmo... Lembra daquele que era seu melhor amigo? Aquele que parece que esqueceu há tempos...

Camilla: Vitor? É você?

Vitor: E quem mais seria minha linda? Que bom que ainda lembra meu nome, já é um bom começo eu diria.

Camilla: Nossa, bom ouvir sua voz. Me desculpe se desapareci do nada. Mas...

Vitor: Mas o que? Continua nessa idéia tosca de se isolar de tudo e de todos é?

Camilla: É bom ouvir sua voz...

Vitor: É linda, também estava com saudades de você. Agora diga, quais nossos planos para hoje a noite?

Camilla: Planos? Arg. Hoje marquei com a Clara e a turma lá no bar do Feh. Topa?

Vitor: E ainda pergunta minha linda? Pode contar com minha presença. Tenho que ir, afinal alguém aqui tem que trabalhar né. Beijões e te vejo a noite então.

Camilla: Ei, você sabe que gosto de você né?

Vitor: Sei, só me esquece vez ou outra né? Mas tudo bem. Também te adoro. Beijos.

Camilla: Beijos.

Vitor. Era bom ouvir novamente aquela voz. Uma voz reconfortante, familiar e que me trazia a paz novamente. Éramos amigos de infância e ele foi o único que sempre permaneceu ao meu lado, mesmo nos instantes em que eu me afastava de tudo e todos. Ele sabia, ele me conhecia intimamente e eu o amava por tudo isso. Fazia tempo em que não nos falávamos. Na verdade, como sempre eu havia sumido do nada. Sempre com a mesma desculpa de querer ficar sozinha e longe de todos.

Olhei para o relógio que solitário em cima da cômoda seguia com o seu “tic e tac” e lembrei que tinha compromissos para aquela tarde. Ia me encontrar com meu irmão. Desde o dia em que decidi sair de casa, desde o dia em que não quis mais negar para mim mesma quem eu era, nossa convivência nunca mais tinha sido a mesma. “Você está doente Camilla” ele dizia. E mesmo depois de professar tais palavras, no fundo do olhar obscuro dele, eu ainda conseguia ver um pouco de zelo e preocupação com sua única irmã. Mas apesar de amá-los tanto, esconder o meu presente e o meu futuro não me fazia bem. Então tive que sair.


###


Eram cinco da tarde. O parque estava cheio de vida. Crianças corriam pela grama, casais de namorados entrelaçados em seus abraços, cães felizes com seus donos, o vento soprava as folhas das altas figueiras e o sol reluzia o dia que tinha tudo para ser perfeito.

Ao longe pude vê-lo. O seu andar tímido e distraído ao mesmo tempo. Para os estranhos talvez pequenos detalhes não fossem percebidos, mas naqueles gestos simples escondia-se muita insegurança e medo. Seus olhos verdes brilhavam com o sol, seus cabelos castanhos claros voavam ao vento. Apenas nesse instante pude me dar conta do tempo que havia passado. Dois anos se completavam desde a última vez que tínhamos nos visto. Era bom ver alguém familiar novamente.

Camilla: Você cresceu.

Leandro: E você não mudou nada, continua contando sempre a mesma mentira.

Camilla: E não mereço um abraço de “olá” por isso?

Leandro: Talvez.

Camilla: É bom te ver novamente. (abraçando-o)

Leandro: Digo o mesmo Milla. Mas você sabe que não fui eu quem sumiu.

Camilla: Podemos não tocar nesse assunto? Por algum motivo estou de bom humor hoje e gostaria de aproveitar isso ao seu lado, podemos?

Leandro: Tudo bem. Acho que não é pedir muito.

Andamos até achar um banco para sentarmos.

Camilla: E, bom o que tem feito da vida?

Leandro: Nada além do normal. Sabe como é; estudos e trabalho.

Camilla: Hmm sei. E como vai a faculdade?

Leandro: Estou no quinto período de Administração. Ainda falta muito...

Camilla: É verdade. Mas por outro lado você tomou um rumo. Já é um ponto positivo não acha?

Leandro: Sim...

Camilla: O que foi?

Existia algo em seu semblante que não era o de costume. E apesar do apesares, eu o conhecia muito bem. Éramos praticamente inseparáveis quando criança e toda vez em que havia algo de errado que o deixava preocupado eu sabia. Apenas sabia.

Leandro: Não é nada de mais...

Camilla: Hmm, mas o que vem a ser então?

Leandro: Estou namorando.

Camilla: Com a Fernanda ainda?

Leandro: É

Camilla: Bom, isso eu já sabia. Vocês estão o que? Hmm Quase três anos juntos não é isso?

Leandro: Hoje faz três anos exatamente.

Camilla: Hmm fico feliz por vocês Le. Sabe que sempre gostei de ver vocês juntos. Formam um belo casalzinho.

Leandro: Vou pedi-la em casamento.

Camilla: Como é que é?!

Leandro: Hoje a noite... É por isso que liguei para você. Precisava conversar com alguém.

Naquele momento meu coração parou. Meu irmão iria se casar? E ele havia me procurado não para passar sermões, nem para discutir sobre minha vida. Mas, simplesmente porque queria e precisava. Algo inesperado para mim.

Leandro: Por favor, diga algo.

Camilla: Me... Me desculpe. De verdade não esperava nada disso para nossa conversa.

Leandro: Então quer dizer que assim como a mamãe você não gostou da idéia?

Camilla: Claro que não Le. É algo fantástico. Muito mesmo, tanto que fiquei aérea com tudo isso. Um grande passo.

Leandro: Eu sei, já ouvi essa história da mamãe. Responsabilidades, trabalho, família, filhos e por ai afora.

Camilla: Filhos?! Como assim filhos?! Você nem casou ainda Le.

Leandro: Eu sei (risos) e nem penso nisso ainda. Mas você conhece ela né. Não perderia uma oportunidade dessas para passar todo o sermão.

Camilla: Eu sei (risos). Me desculpe.

Leandro: Pelo o que?

Camilla: Ter me distanciado de você. Sabe que não pretendia tudo isso. Não foi minha intenção. Durante esses dois anos não teve um dia se quer que não me lembrasse de você.

Leandro: E porque então não ligou? Porque não largou seu vicio e voltou para casa?!

Camilla: ...

Leandro: Desculpe, não vamos entrar nesse assunto, prometo.

Camilla: É bom te ver.

Leandro: Digo o mesmo. Você continua a chata de sempre, mas estava com saudades.

Camilla: Eu sei. Eu também. Mas então, como será?

Leandro: Er... Como será o que?

Camilla: O pedido! Ora bolas.

Leandro: Ah sim. Então... Jantar na casa dos pais dela. A família estará toda reunida.

Camilla: Uai... E você tem toda essa coragem assim é? Não te reconheço mais (risos)

Leandro: Estou tremendo desde já não vê? (risos) Mas quanto a isso está tudo bem. A família já está sabendo e estão de acordo.

Camilla: Entendi.

O sol se escondia diante de nós no horizonte. A noite logo chegaria. O parque que antes estava cheio de vida, logo se esvaziou e poucos foram aqueles que ali permaneceram. Era bom vê-lo novamente. Saber que estava tudo bem e que ele estava feliz. Trazia certo conforto ao meu abandono.

Leandro: Não posso demorar muito. Ainda tenho coisas para arrumar. Mas o que queria saber de você é ainda outra coisa.

Camilla: Hmm Sim...?

Leandro: Então, vou me casar. E preciso... Precisamos... Er... De uma madrinha de casamento. Topa?

Camilla: Hã? Madrinha eu? Do seu casamento? E ainda pergunta se eu topo?

Leandro: ...

Camilla: É claro que topo seu bobo!

Leandro: (risos) Então fica combinando. Assim que eu puder eu te ligo. Realmente tenho que ir.

Camilla: Oks. Foi bom te ver. E boa sorte no seu pedido.

Leandro: Não diga isso porque já começo a tremer (risos). Te ligo.

Camilla: Tudo bem.

Leandro: Tchau.

E assim terminou minha tarde de sábado. Sentada em um banco de parque, vendo-o ir embora. Feliz por saber que ele tinha seguido um caminho e tinha orgulho de si mesmo. Por saber que aquele adeus não era para sempre e sim apenas um até logo. O dia se desfazia com aquela imagem e a saudade dos momentos de infância logo batiam no peito. Eu tomava meu rumo de casa, ouvindo minhas músicas, vendo e revendo as imagens que passavam lá fora. Já era noite.

Um comentário:

  1. Adorei esse capítulo, Thamara-chan. Você tem futuro como uma ótima escritora, só acho que deveria publicar em uma editora mesmo /hmm
    Enfim, mais uma vez, está de parabéns.
    Beijão =]

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